quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Daniel meu gato



A dor pela perda do animal de estimação não costuma ser entendida por aqueles que não têm um cão ou um gato ou qualquer outro bicho de estimação. Muitos acham estranho que alguém chore desconsoladamente por um animal que fazia parte da família ou era, sim, a família de alguém e desprezam os sentimentos. Há oito dias que recebi a triste notícia do atropelamento e, decorrente disso, da morte de Daniel meu gato. Daniel partiu para o infinito dos telhados. Quando soube, fiquei pensativo, triste e lamentei mas, não chorei...até passar uns dias, numa das idas à cozinha, onde ficavam o comedouro e bebedouro do felino, parar e não vê as vasilhas da comida e da água dele e com isso, a "ficha cair" junto com uma lágrima.

P.s.: Texto escrito em 07 de Abril

(Sousa Neto)

Relato de uma manhã nostálgica



Na manhã de hoje quando eu vinha caminhando pelas calçadas das lojas, no coração da cidade (Mossoró-RN), encontrei uma grande e inesquecível professora de História, do Ensino Fundamental, que há muito não a via. Fátima Gurgel foi minha mestre numa das escolas públicas mais antigas de Mossoró, cujo estilo arquitetônico me arrebatava a admiração: a Escola Técnica de Comércio União Caixeiral ou, simplesmente, União Caixeiral, que era como a conhecíamos naqueles anos e funcionava onde hoje é a Biblioteca Pública Ney Pontes Duarte. Entretanto, com pouco tempo após o meu ingresso na escola, esta passou a ser chamada de Solon Moura, funcionando até os dias atuais, ao lado da Biblioteca, como uma escola voltada para alunos da rede pública do estado. Ao vê-la, subitamente fui arrastado pelas correntes de uma nostalgia violenta para aquela época e para as suas aulas de História onde, também, sempre me faziam viajar ao assisti-las. Abraçamo-nos, trocamos muitas palavras e demos, também, muitas risadas.
Entretanto, eu não só vi minha ex-professora, mas também em sua pessoa, o tempo. O que muito me assustou e me deprimiu bastante. Os açoites do tempo são implacáveis com todos: Fátima já tinha seus cabelos bem banhados na cor prata e o andar meio lento. Mas sempre simpática, sorridente, humana e, sim, minha eterna professora. A qual serei imensamente grato pelas suas orientações e ensinamentos libertadores.

(Sousa Neto)

terça-feira, 30 de julho de 2019

Relato Torrencial


Era noite e chovia bastante. Mas, chovia balas e não canivetes d'água. Eu não conseguia enxergar bem. Fora tudo muito rápido e turvo. Porém, vi muitas armas, fumaça, gritos, uniformes de policiais e dor. Além disso, vi-me completamente perdido em meio a essa chuva torrencial, reconhecendo apenas a imagem borrada de um familiar e a morte dançar sob o cair desses tiros. Vinham disparos de todos os lados e, com isso, o desespero impresso no meu rosto. Tentei em vão não me molhar nessa tempestade, contudo, uma bala mergulhara na minha têmpora e senti, intensamente, ardentemente, minha alma se evaporar do solo do meu corpo. Embora ofegante, ainda trocara algumas palavras com um conhecido, mas era meu fim. Não consegui fazê-lo por muito tempo. Cerrara meus olhos para a vida, porém, logo em seguida, conseguira abri-los, com luta e roído pelo medo, para a realidade. Acordara-me de mais um devaneio noturno.

(Sousa Neto)

Relato Assombroso


Eu quis e até tentei chamar alguém, mas o medo me asfixiara a garganta me impedindo de gritar depois que acordei. Eram quase três horas da madrugada. Contudo, com uma rapidez tão grande, consegui me libertar das correntes do medo que prendiam meu corpo e me "casulei" com o lençol. Entretanto, não gritei. Apesar de tudo isso consegui voltar ao descanso, mas, infelizmente, retornei para os tenebrosos devaneios dos quais não consigo me recordar e novamente fui arrastado pelo medo sem saber se estava acordado ou dormindo. Diante disso continuei a ser imobilizado e tendo a sensação de que eu tivera uma companhia ao lado da minha cama enquanto lutava, mais uma vez, para tentar me despertar, e que havia sentido o meu lençol ser puxado lentamente pelo pé. Fora, na noite de ontem, mais um pesadelo rotineiro, horrível e infernal, pelo qual atravessara, porém com uma realidade tão absurda que não sei se era de fato apenas imagens oníricas, nebulosas e assombrosas que eu estivera vivendo. Sei que eu estava sofrendo e vi, com isso, meu sono ser roubado.

(Sousa Neto)

domingo, 12 de maio de 2019

Materno Amor



Seguros portos,
Firmes solos,
Quentes abraços,
Sacrifícios,
Doações,
Grandes corações,
Garras,
Lutas,
Revoluções

Abrigo de tetos e pilares
Com portas sempre abertas,
Uma raiz em nós enraizada,
Na têmpora um beijo,
Flores,
Amores,
Dores,
Mel,
Também fel.
A poesia desse ser
São as mães

- Sousa Neto -

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

(Des) Encontro




Chorei um oceano...
Senti frio de uma enregelada solidão
sob o deveras caloroso lençol solar
de um  ensolarado dia.
Assim como  fizestes tu,
a apetência, o querer viver...
me abandonaram também.


E embora ainda muito cálido,
me vi sisudo, pálido,
sem vida, sem rumo,
perdido no espaço...
Mas encontrado nos braços
do abandonamento  outra vez.

- Sousa Neto -

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Confissão


Pensava eu
que estivestes tu,
cadavérica, lívida e enterrada
sob várias camadas
do tempo no chão
da minha memória

Porém, denuncio-me:
ainda vagueias tu,
pelas vielas
da mente minha. 

- Sousa Neto -